sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Coração de Nazul - Cap. IV

Capitulo IV

Na manhã seguinte, Claire acordou sobressaltada, tinha tido um pesadelo. Sonhara que Land tinha atravessado o rio e se afogara. Sentou-se na cama, ofegante elevou a sua mão branca até ao peito onde usava o colar que Land lhe oferecera. Apertou-o contra o peito como se pressentisse que algo se passava com Land. Sentada na sua cama, olhava em redor, aquele quarto parecia-lhe ainda mais pequeno, uma angústia invadia o seu coração. Sabia como acabar com ela, tinha de ver Land, assim que o vise tudo ficaria bem. Num rompante, se levantou da cama e se vestiu para ir ter com ele, escolheu o seu melhor vestido, o azul, preferido dele. Apressara-se a sair de casa evitando a cozinha, pois sua mãe já lá se encontrava a preparar o pequeno-almoço, não queria que fosse vista a sair.
Em passo apressado Claire seguia até a casa de Land, mas, à medida que se aproximava a sua angústia aumentava, sentia o coração cada vez mais apertado. Chegou por fim, hesitou em bater, sabia que Land pretendia atravessar aquele rio. E se o sonho que teve não fora apenas um sonho? Terá de facto acontecido? Bateu e rezou para que fosse Land a abrir-lhe a porta com aquele sorriso para ela, mas em vez dele, Dona Helen apareceu, tinha o rosto inchado e os olhos molhados.
“És tu minha querida, entra!” – disse-lhe a mulher com a voz trémula.
Claire vendo-a naquele estado segurou-a nos braços e ajudou-a a sentar-se, sentando-se de seguida numa cadeira à frente dela.
“Que aconteceu, Dona Helen? Porque está assim?”
Dona Helen olhou Claire bem dentro dos olhos dela e lhe respondera: “Porque, minha querida, aquele por quem vies-te, já não se encontra desta parte do mundo!”
“O que quer dizer com isso?” – perguntava-lhe Claire com os olhos brilhando pelas lágrimas que lhe corriam pelo rosto.
“Land partiu…foi ao encontro do seu passado!”
“Não! Não pode ser verdade! Diga-me, por favor, diga-me que isso não é verdade!”
Claire não conseguia evitar as lágrimas, o desespero tomara conta dela, não queria acreditar que Land partira. Dona Helen, sempre tão carinhosa, abraçou-a para que ela chorasse em seu colo – “Quem me dera poder dizer-te que ele não fez essa loucura, mas é a verdade minha filha, ele foi!” – e ambas ficaram abraçadas, compartilhando do mesmo sentimento de perda.

Perto do rio surgiam as bestas que Grima mandara em busca da chave para a sua volta ao mundo dos mortais e espalhar todo o seu ódio. Grima necessitava encontra-la para poder controlar o Diamante Azul, a maior pedra existente e detentora de todos os poderes mágicos do reino de Nazul. Com ele poderia destruir o poder do espírito do rio que guardava a passagem, impedindo que fosse atravessado. O rio era o seu limite, este o impedia de realizar o seu desejo de dominar os humanos que tanto odiava, o espírito de uma bela mulher habitava aquelas águas, guardando as fronteiras para que não fossem quebradas. Os que tentassem infringir as leis de Nazul eram punidos com a própria vida, os únicos seres a quem era permitida a passagem de um lado para o outro, eram os animais. Por esta razão Grima optara por dar vida aos cadáveres dos lobos que se encontravam em seu covil, assim, podiam passar livremente e cumprir os desejos de seu mestre e senhor.
As vis criaturas sem alma, passavam no rio em silêncio, para que a Senhora do rio não desse pela presença deles. Calmamente e devagar caminhavam nas águas adormecidas, elevando as armas para que não tocassem na água. Por fim chegaram até à margem, secaram-se e seguiram o caminho até Riverhood.
Em Riverhood tudo estava calmo, ouvia-se o reboliço habitual das crianças a correrem, ninguém sequer adivinhava o que estava para chegar. Mad Merry também se encontrava calmo em seu canto, encolhido frente à porta da sua casa. Mas, algo despertou a atenção de todos, algo de estranho estava a acontecer. As crianças pararam de correr, as pessoas de falar, até Mad Merry levantou a cabeça. Sons estranhos vinham da floresta, pareciam passos apressados. Foi então que outro som surgiu, que espalhou o medo, o som de rugidos, uivos de raiva, lâminas e por detrás destes sons a imagem de bestas ferozes sedentas de sangue que penetravam na aldeia. O pânico instalou-se, todos gritavam, corriam com medo, enquanto o rosnar daquelas criaturas se tornavam cada vez mais alto.
Claire e Dona Helen que ainda se encontravam dentro de casa aperceberam-se de que algo de estranho estava a acontecer na rua. Sobressaltadas apressaram-se a ver o que se passava. Abrindo a porta da casa, aperceberam-se de que todos estavam em pânico correndo como loucos, mas o que poderia estar a assusta-los tanto? Para ver melhor Claire saiu, dando-se conta do horror que todos enfrentavam, não queria acreditar no que seus olhos viam, de onde surgiram aquelas criaturas e porque atacavam a aldeia?
Dona Helen apercebendo-se o que se passava agarrou o braço de Claire e em desespero – “Claire, filha, rápido foge para casa!”
Ao olhar em direcção de sua casa, vira seu pai que a chamava: “Claire! Claire! Rápido!”
Claire voltou o seu olhar para Dona Helen, mas esta não a deixou dizer nada, com o seu doce olhar a mandou ir com seu pai sem olhar para trás. Um pouco hesitante e assustada começou a correr desviando-se das pessoas que corriam em pânico de um lado para o outro. Tudo era tão aterrador, como Claire desejava que Land estivesse com ela para a proteger. Segurando na mão de seu pai correram em direcção de casa, onde se encontrava sua mãe à espera de ambos.
Claire estava muito confusa com toda aquela situação, não fazia ideia do que pensar, eram muitas as perguntas que lhe assaltavam a mente. O que estava a acontecer? Que criaturas horríveis eram aquelas e que pretendiam dali?
Os pais de Claire nunca estiveram tão agitados, andavam de um lado para o outro, do lado de fora os gritos eram ensurdecedores.
“Pai, o que se está a passar? O que eram aquelas coisas?”
Os pais de Claire não lhe respondiam continuavam a andar de um lado para o outro, mas tinha de perceber o que se estava a passar, o porquê de tanto pânico?
“Pai, por favor fala comigo! Mãe! O que está a acontecer? Digam-me!”
Perante o desespero da filha Sr. Robert parou em frente dela e olhando-a bem no fundo dos seus belos olhos azuis – “Claire, temos de partir o mais depressa possível! Estes seres que viste, vem de Nazul a fronteira foi quebrada, já não estamos seguros!
“Embora daqui! Seres de Nazul! Não percebo! Não posso ir embora Land…” – elevou a sua mão até ao colar.
“Esqueci-o minha filha! Ele não pertence aqui!”
“Não me podes pedir isso!” – segurava ainda com mais força o colar entre as suas mãos – “Não posso esquece-lo meu pai, porque ele vive no meu coração! Eu amo-o!” – as lágrimas percorriam o seu rosto.
“O quê? Não podes ama-lo, isso não!” – Sr. Robert não queria acreditar no que acabara de ouvir, e reparando na mão de Claire que apertava contra o peito alguma coisa – “Que tens aí? Mostra-me Claire!”
Claire abrira a sua mão branca revelando o colar de Land – “É o colar de Land! Ele deu-me como prova de que me ama e que vai voltar para mim!”
Ao ver o colar de Land nas mãos de Claire os olhos do Sr. Robert fixaram aquele pequeno objecto com clara preocupação. Dona Rose, mãe de Claire, sempre foi uma mulher muito calma, quase sempre em silêncio, ao ver na mão da sua filha o colar de Land percebeu desde logo que ela corria perigo, tinha de fugir dali o mais rápido possível.
“Minha filha, corres grande perigo tens de fugir!” – as lágrimas de Dona Rose corriam-lhe pela face pálida.
“Perigo? Não percebo! O que está a acontecer aqui? Porque ficaram assim a olhar para mim por trazer comigo o colar de Land? Falem comigo!”
Dona Rosa olhara para Sr. Robert, seu marido, e com o coração destroçado tomou a sua decisão – “Ela tem de ir para lá! Robert, é a única solução!”
Claire não estava a compreender o que se passava, o que sua mãe queria dizer com o ter de ir para lá? Para onde e porquê? Olhava insistentemente para seus pais procurando respostas para aquela situação.
“Não estou a perceber! O que quer dizer com isso mãe? Para onde tenho de ir?”
Sr. Robert olhando no fundo dos olhos claros de Claire segurou-lhe nas mãos. Percebia-se em seus olhos o medo e desespero.
“Claire…” – um pouco hesitante – “ouve bem com atenção o que te vou dizer! Land não é como nós, é um deles! Ele veio de Nazul e foi chamado porque o maldito regressou! Land possui um enorme poder, não te sei explicar porquê, mas ele é o único capaz de deter o que nos ameaça! Mas para o conseguir ele tem de possuir o colar que carregas!” – voltou o seu olhar ao colar que Claire transportava.
Claire perante a revelação de seu pai ficou paralisada, sem palavras. Colocou na sua mão o colar de Land lembrando-se do dia em que ele lho dera, de certeza que não fazia ideia daquilo que lhe tinha colocado em seu poder. Estava perdida em suas lembranças quando os gritos vindos do lado de fora a fizeram voltar à triste realidade.
O desespero das pessoas crescia a cada momento, aquelas criaturas atacavam sem piedade, pareciam que procuravam alguma coisa. Sr. Robert tinha medo pela filha, abraçou-a e com as lágrimas a percorrer-lhe a face: “Claire, minha filha, tens de ir para Nazul! Tens de devolver a Land o seu colar!”
“Mas pai, como vou para lá? Não posso deixá-los aqui assim…”
“Ouve bem! Vai e não olhes para trás e aqueles que te atravessarem no caminho mostra-lhes o colar, diz-lhes que tens de o devolver a Land! Pede que te levem até ele!”

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