domingo, 25 de abril de 2010

Profecia.cap.um

(continuação)

Dirigi-me até à entrada; a entrada não era muito grande com uma porta de madeira cor de cerejeira, dos lados os típicos azulejos de vidro. Devido à hora tardia não podia contemplar toda a magnitude daquela casa, mas a entrada fazia adivinhar um lugar acolhedor. Dentro da casa como era de prever estava tudo escuro como breu. Sarah carregou no interruptor ligando a luz que revelou uma casa preenchida, estava mobilidade com a velha mobília – o que me fez viajar pelo passado.

O hall de entrada não era muito grande, logo em frente estavam as escadas para o andar de cima. Na minha esquerda estava a sala: com o sofá comprido e de cor castanha (um pouco gasta, mas ainda assim acolhedor), a televisão mesmo à sua frente – a sala era um pouco maior que a antiga o que permitiu a Sarah colocar a mesa de jantar ao fundo. Do meu lado direito a cozinha também ela toda mobilada com os electrodomésticos antigos e bem no centro a mesinha redonda de madeira branca que Sarah namorou bastante tempo numa loja.

- Já é um pouco tarde e estou estafada! Deixa aí os sacos que depois amanhã arruma-se… - espreguiçou-se – Queres comer alguma coisa? – Perguntou-me enquanto já se dirigia até à cozinha.

- Pode ser uma sandes!

Não sentia a mínima fome, mas sabia que não me deixaria dormir sem comer alguma coisa. Sempre foi assim desde pequeno, comia mais para lhe fazer a vontade do que propriamente para saciar a fome.

- OK! Porque não vais até lá cima ver o teu novo quarto enquanto eu preparo tudo. É o do fundo como pediste.

- Está bem!

Subi lentamente as escadas para o andar de cima, onde se encontravam os quartos. No topo encontrei dois corredores em que um se dirigia para o meu lado direito e o outro para o meu lado esquerdo. Mesmo em frente havia uma porta – um dos quartos – ao fundo do corredor direito uma outra porta, de um outro quarto, assim como ao fundo do outro corredor. O corredor era bastante largo, cabendo perfeitamente três pessoas em simultâneo. Dirigi-me para a porta que estava entreaberta e com alguma luminosidade do meu lado direito – deveria ser aquele o meu, visto que as minhas coisas foram as últimas a ser enviadas. Enquanto andava reparei que do lado direito havia uma pequena porta – a casa de banho. Continuei em direcção à porta desconhecida.

“Bingo!”

Nem precisei de confirmar se era mesmo aquele o quarto que haveria de ser meu – a minha grande cama estava bem no centro. O quarto era espaçoso e nele estavam as minhas coisas: a minha velha mas confortável e agradável mobília. As paredes nuas (como eu gostava, nunca gostei muito de paredes de papel que limitam a nossa imaginação) de um tom de azul não muito escuro. Mas o melhor de tudo, o que de facto mais me chamou a atenção foi uma grande porta de vidro que revelava uma agradável varanda – sempre tive um fascínio por varandas – que pena já ser tão tarde, adoraria contemplar o meu novo mundo a partir daquela varanda. Aquela varanda ia a ser o meu refúgio, conseguia ver-me tardes a fio nela.

Um estranho sentimento apertou-me o coração que se transformou num nó na garganta quando olhei para aquela varanda contemplando a rua escura que via da janela. A imagem de Kelly invadia de novo a minha memória – começava a tornar-se hábito.

“Ela iria adorar esta varanda magnífica!”

De novo a angústia tomava conta de mim, mas sentia que não era só pelo facto de estar longe de Kelly. Sem qualquer razão aparente sentia que alguma coisa iria acontecer neste lugar novo que iria mudar a minha vida. Olhei em redor para tentar afugentar aqueles sentimentos e sentei-me na minha cama. Quando senti a cama macia e quente o meu corpo começou a ceder a um estranho cansaço. Como podia estar cansado se acordei a pouco tempo de um longo sono? A vontade de ceder, aconchegar-me e fechar os olhos crescia a cada segundo… Apresei-me a levantar-me e abanei a cabeça para não adormecer. O melhor era descer antes que Sarah começasse a ficar preocupada.

(continua...)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Profecia - Cap.Um

(continuação)

Se tivesse que definir a minha relação com Sarah através de uma palavra seria fantástica; impossível ser definida como uma relação normal entre mãe e filho; nunca havia discussões, vivemos sempre em plena harmonia – talvez essa relação se deva muito ao facto de o meu pai nos ter abandonado, ainda mesmo antes de eu ter nascido. Sarah foi, mais uma entre tantas outras jovens iludidas pelos seus namorados, mãe solteira. Sozinha teve de lutar para me criar e enfrentar a desilusão dos pais que não aceitaram esta situação de ânimo leve.

Do meu pai não tenho nenhuma lembrança – nem sentia necessidade delas -, nem sequer um nome. Sarah nunca falava dele e eu respeitava-a, estava no seu direito de esquecer – afinal de contas não foi o que ele fez?!

Sempre a admirei por tudo que passou e ainda conseguir manter aquele sorriso radiante e um humor excepcional. Sinto que herdei dela toda a sua disposição, alegria e humor; por vezes parecíamos irmãos e não mãe e filho. Sarah tinha uma regra da qual não abdicava: nesta família não existe lugar para lágrimas nem tristezas, vivamos cada segundo da vida a sorrir. Apenas a sua super protecção de mãe poderia destabilizar aquela harmonia perfeita se eu não fosse extremamente paciente – nunca percebi qual a razão de tanta protecção, mas realmente nunca me incomodou muito, sempre o associei ao facto de ter sido mãe solteira.

Por mais que me esforce, nunca irei entender o que leva um homem a abandonar uma mulher como Sarah. Ela possuía todas as qualidades que um homem procura numa mulher: linda; graciosa; espirituosa; dedicada - uma mulher como poucas.

- O que foi? – Perguntou-me Sarah, interrompendo o meu pensamento.

- Nada! Estava só a ver se me esquivava do trabalho duro – gracejei.

- Nem penses que te safas! – Apontou para os sacos - E como estás tão bem disposto, ficas com esses dois sacos por tua conta – e deu-me uma palmadinha no ombro enquanto se dirigia para a entrada.

- Muito obrigada! Até estava mesmo com vontade de fazer um pouco de levantamento de pesos – levantei-os e fingi que estavam demasiados pesados – Ufa! Isto é pesado!

Sarah perante o meu fingimento fez um trejeito com a boca e mostrou-me a língua.

(continua...)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Profecia - Cap. Um

(continuação)

- Alex? Alex? Acorda! Já chegamos – disse. A sua voz era suave, doce e, parecia tão distante.

Os meus olhos insistiam em permanecer fechados. O som da sua voz parecia de uma fada, daquelas que aparecem em sonhos, que por momentos acreditei que estava realmente a sonhar; até que o toque suave e quente da sua mão tocou na minha pele fazendo-me estremecer e voltar ao mundo real. Lentamente consegui abrir os olhos, a claridade esmorecida deixava prever que já seria tarde; uma cor alaranjada a fugir para um vermelho vivo pintava o céu – o pôr-do-sol.

Mas…

Não sei quanto tempo fiquei a dormir! A viagem deveria ter demorado três dias pelo menos, terei dormido três dias seguidos? Como poderíamos já ter chegado? Será que Sarah decidiu testar a potência toda do carro e carregar com o pé no fundo? Nunca foi muito de correr!

- Chegamos? Chegamos onde? – Murmurei.

O meu corpo parecia não querer obedecer, ainda estava mole – certamente pelo exagero do sono. Esforcei-me para me sentar direito e olhei em volta com os olhos bem abertos para ter a certeza que não estava a sonhar – visto que a minha mente começava a adquirir o hábito de me pregar partidas. O carro estava parado frente a uma casa branca com um belo relvado verde em toda a volta e flores. A casa não era muito grande, dividida em dois andares.

- Então? Vais ficar no carro? – Interpelou-me já do lado de fora do carro. – Bem-vindo a casa – e acrescentou com a voz a radiar o seu entusiasmo abrindo os braços num abraço imaginário que abrangia toda a casa.

Respirei fundo – nem sei bem porquê.

Abri a porta do carro e saí lentamente ainda zonzo tendo de me apoiar pesadamente na porta. Semicerrei os olhos, ainda confuso.

- Ultrapassas-te o limite de velocidade? – Perguntei incrédulo.

- Eu? – Sobressaltou-se. – Porque dizes isso? Sabes bem que não gosto de correrias…

- Então, o que aconteceu para chegarmos tão rápido? – Involuntariamente bocejei.

Sarah sorriu perante a minha falta de controlo.

- Se calhar devias perguntar a esse bocejo.

- O que queres dizer? – Olhei-a confuso. – Quanto tempo é que eu fiquei a dormir?

- Digamos que passei uma viagem completamente aborrecida porque não tinha com quem falar - Sarah falava muito depressa atropelando as palavras enquanto se dirigia até a mala do carro -, dormiste a viagem inteira. Não consigo perceber como conseguiste, três dias seguidos, Alex! Até pensei em levar-te ao hospital, depois daquele mal-estar todo; fiquei realmente assustada, ficaste imóvel, nem um músculo se mexia, só conseguia sentir a tua respiração tranquila.

Imóvel? Três dias seguidos?

Franzi o sobrolho enquanto a ouvia.

- Eu ainda parei de vez em quando, para comer, beber… Enfim, cumpri as minhas necessidades de ser humano – semicerrou os olhos na minha direcção. - Olha, eu tentei acordar-te, mas nada! Parecia que tinhas deixado de ser humano sem quaisquer necessidades para cumprir…foi… impressionante!

Sim! Impressionante!

Impressionante não era propriamente a palavra que Sarah tinha em mente. A linha franzida na testa revelava que preocupante seria a palavra mais apropriada para descrever o meu comportamento.

- Então? Vais ficar aí a olhar para mim ou vais ajudar-me com isto? – Sarah apontou para três grandes sacos de viagem que trazia na mala do carro.

- Digamos que a primeira hipótese é a mais tentadora, mas vou optar pela segunda - gracejei.

Sarah sorriu e bateu-me de leve no ombro.

- Muito engraçadinho!

- Esforço-me!

Rimos em simultâneo!

(continua...)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Feliz Natal e Bom Ano 2010

DIA DE NATAL
DIA DE AMOR E ALEGRIA
UM DIA SEM IGUAL
PASSADO COM EUFORIA

DIA DA FAMILIA
DE ESQUECER A DOR
DIA DE PERDOAR E SENTIR ALEGRIA
E DEIXAR ENTRAR O AMOR

NOVO ANO PRESTES A NASCER
UM CORAÇÃO A BATER
RENOVA A ESPERANÇA
DE REALIZAR O SONHO DE CRIANÇA.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Profecia - Capitulo Um

(continuação)

Sarah ainda estava dentro do carro, mas tinha passado para o lugar do passageiro onde eu estava, ficando mesmo ao meu lado. Não precisava de ver o seu rosto para perceber a sua preocupação, aliás conseguia ouvir a sua respiração ofegante.

- Estás bem? – Perguntou-me com o tom de voz quase inaudível.

Suspirei e deixei cair o meu rosto para o lado.

- Queres ir ao hospital?

- Não é preciso… Estou bem! – Respondi-lhe com a voz fraca devido ao esforço.

- Tens a certeza?

- Tenho. Já estou bem melhor.

Senti os seus olhos reprovadores na minha nuca.

- A sério. Está tudo bem… - disse enquanto me levantava com dificuldade. - Podemos ir. – Entrei no carro assim que ela voltou para o lugar do condutor.

- OK! Está bem – ela concordou sem grande confiança. – Mas, meu menino se piorares… Hospital. Percebido? Não quero amuos nem resmunguice… - e, acrescentou com o seu melhor tom autoritário que conseguia fazer.

Assenti.

Perfeito. Vai ser sem dúvida uma longa viagem. Sarah, a mãe demasiado protectora começava a atacar; fazia lembrar as leoas a cuidar das suas crias, da National Geografic, defendiam-nas de todos os perigos com garras e dentes. Sarah vai ficar de vigia toda a viajem; mas que sorte! Oficialmente todo o meu esforço matinal para não a preocupar devido a um sonho idiota foi claramente um fracasso – um sonho idiota, como podia causar tantos problemas? O melhor é não pensar mais nisso, já tinha dado problemas que chegue.

Como um sonho tão idiota conseguia perturbar-me daquela maneira? Sim, não era o sonho em si que me fazia sentir assim, era sim, aquele gosto na minha saliva, o sangue daquelas pobres criaturas – tão doce… Abanei a cabeça. Precisava urgentemente de uma distracção, puxei os auscultadores e recomecei a ouvir as minhas melodias.

Suspirei e fechei os olhos.

Algum tempo depois já me sentia bem melhor, todo aquele enjoo passara, foi então que inconscientemente voltei aquela gruta; mas desta vez algo diferente chamou a minha atenção. Aquelas duas pessoas procuravam alguma coisa que acabaram por encontrar – que parece ter sido fatal -, Mike (o homem do meu sonho) tinha nas mãos qualquer coisa que ditou a sua morte e a de Laura. Um documento? Não me consigo lembrar exactamente o que era… Perfeito! Muito conveniente, o que supostamente devo lembrar é exactamente o que a minha memória decidiu apagar… Espera! Lembra-te! O que foi que Mike disse?

“…uma profecia sobre o fim do mundo…”

E depois aquela voz…

O que estava escrito naquele documento? Abanei a cabeça. O que quer que lá estivesse escrito, e o que foi dito, não importa; afinal foi apenas um sonho…

Procurei concentrar-me na música; aquela história já me tinha dado dores de cabeça que chegue – conseguia sentir os olhos de Sarah a repousar em mim quase de dois em dois segundos. Um dia de mudança brilhante, não podia ser melhor… Felizmente, acabei por mergulhar por completo na música e adormeci – um sono tão calmo e suave sem sonhos (pelo menos que consiga lembrar-me), não senti nada durante o resto da viagem nem os olhos vigilantes de Sarah – apesar de ter a certeza que continuava a vigiar-me.

(continua...)

sábado, 28 de novembro de 2009

Profecia - Cap.Um.

(continuação)

Pude ver o brilho dos seus grandes olhos azuis, estavam húmidos, pelo que não continuei, e também porque não queria lembrar-me deles como não queria lembrar do mais recente.

O silêncio que ficou entre nós apenas era quebrado pelo barulho do motor do carro – não porque fizesse um barulho ensurdecedor, ao contrário era bastante sereno. Queria pensar que ela não iria querer saber sobre este pesadelo, mas conhecia-a melhor do que ninguém; sabia que me ia perguntar, estava apenas à procura da melhor maneira para o fazer. Conseguia percebê-lo, porque estava irrequieta, os dedos batiam freneticamente no volante – ela ia acabar por perguntar.

Na minha cabeça repetia vezes sem conta: “Não me perguntes nada, por favor, não me perguntes nada…”

- Alex? – Ela hesitou. – E deste, lembras-te de alguma coisa? – E baixou o tom da sua voz.

Nesse momento o que eu mais receava aconteceu: o rosto aterrorizado de Laura, os seus gritos e os olhos a transbordar de medo e terror… - lembrei-me e um arrepio subiu pela minha coluna fazendo-me estremecer.

- Não – menti, tentando com esforço esconder o nervosismo na minha voz e olhei pela janela. Se lhe respondesse que sim, seria obrigado a lembrar-me de mais pormenores que não queria rever. – Não deve ter sido nada de importante, apenas um pesadelo… Acho que foi mais um sonho do que um pesadelo… Não sei, não me lembro sequer sobre o que era… - Atropelei as palavras, acontecia sempre quando tentava esconder-lhe alguma coisa.

Ela disse que eu nunca consegui contar-lhe sobre os outros, será que lhe mentira como agora? Será que eu lhe dizia que não me lembrava de nada quando de facto lembrava de tudo? Comecei a sentir-me ainda mais culpado.

Uma das coisas que sempre odiei era mentir-lhe; pelo menos umas delas era verdade, de facto não se semelhava a um pesadelo, era mais um sonho – não acordei aos gritos. O que mais me impressionou naquele estranho sonho foi a forma como parecia real, como se conseguisse ver com os meus próprios olhos, era como se conseguisse sentir e cheirar o próprio sangue morno – quase podia jurar que senti o sabor do sangue na minha saliva – morno, suave e, estranhamente, doce… Doce? Porque senti o sangue doce?

Estremeci.

- Hum… Ok! – Ela concentrou-se na condução e fingiu aceitar a minha meia mentira.

A minha cabeça recomeçava a rodar, relembrar foi um erro – um enorme erro. A sensação de enjoo não podia ter surgido em pior altura, com o movimento do carro só aumentava, até que transformou-se numa sensação de vómito – não podia ser em pior altura, mesmo. O meu estômago estava decidido em provocar uma daquelas revoluções – espera, mas eu não comi! O que pode haver num estômago vazio para expulsar? Não iria ceder, pensei em todas as maneiras possíveis para me distrair – a cabeça doía-me com o esforço. Pensar não era a melhor solução. Por isso, agarrei nos auscultadores tentando parecer o mais normal possível (se isso fosse possível), rapidamente procurei no mp3 uma das minhas músicas preferidas que logo começou a tocar. Encostei a cabeça e com a ajuda da música tentei (em vão) distrair-me daquela sensação. Oh! Não! Não, isto não está a acontecer. O meu pensamento pedia – não, implorava: “não por favor fica muito quieto, estamos quase a chegar… Não há razão para ficares revoltado!” – o meu estômago, simplesmente, ignorou-me. A sua intenção era provocar uma revolução – uma daquelas! Oh, sorte!

- Está tudo bem, Alex?

Não! Conseguia sentir uma estranha sensação a subir pela minha garganta seguindo o trajecto da minha boca – agora não há nada a fazer.

- Estás pálido, deve ter sido de não comeres nada… Estou sempre a avisar-te… - Deixei de a ouvir, a sua voz esfumavas no ar; quando não conseguia conter mais aquela sensação… tive de gritar:

- Pára! – Levei as mãos à boca.

O carro quase derrapou no pavimento, com a travagem brusca que a obriguei a fazer, ouvindo-se o guinchar dos pneus e o buzinar irritado dos outros condutores. Mal o carro se imobilizou na berma da estrada, abri a porta de rompante e caí de joelhos – uma sensação horrível. Sentia o meu estômago a arder, a cabeça zonza e na garganta um gosto horrível - o meu estômago conseguiu o que pretendia. Depois de uns segundos uma estranha sensação de alívio invadiu o meu corpo fazendo-me relaxar e a cabeça parar de girar. Respirei fundo e deixei-me cair, sentado no chão encostado ao carro. O alívio que sentia era tão reconfortante: “Ufa… que alívio!”

(continua...)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Prof.Sang.-Transf.-Cap.Um

(continuação)

- Estás a ouvir-me? – Sarah arrancou os auscultadores dos meus ouvidos para me chamar a atenção. – Estou aqui a falar para o boneco, a falar a falar e tu não dizes nada… Passa-se alguma coisa, estás doente? – E levou a mão à minha testa a examinar se tinha febre.

- Estou bem! – Afastei-lhe a mão e ela repreendeu-me com o olhar. – Apenas tive uma noite difícil – e, a sobrancelha levantou-se pelo que aprecei-me a acrescentar – Tive um pesadelo. Não tens razões para te preocupares, não foi nada, a sério…

Agarrei nos auscultadores na esperança que ela não me perguntasse nada sobre esse pesadelo, não estava com a mínima vontade de lembrar-me dele. Aliás, não estava com vontade de falar sobre nada, apenas queria ouvir a minha música e lembrar-me de Kelly – o rosto doce, meigo de Kelly.

- Podias-me ter chamado que eu preparava-te alguma coisa…

- Mãe! Tenho quase 18 anos, acho que consigo sobrevier a um pesadelo – sorri, tentando esconder o nervosismo, só queria que não me perguntasse sobre ele…

- Uh… Tiveste um pesadelo? Que tipo de pesadelo? Lembras-te dele?

A minha esperança caiu por terra, porque tinha de falar nele? Agora não posso fugir, vou ter de me lembrar…

- Não tens pesadelos desde que tu eras pequeno – o sorriso dos seus olhos apagaram-se.

- Eu tinha pesadelos? – Inquiri. Não estava certo se queria saber.

- Sim… Eu ficava desesperada, queria ajudar-te a dormir mas não conseguia – a voz sumia-se enquanto falava, quase não conseguia perceber as suas palavras. – Sempre que fechavas os olhos começavas a gritar e choravas… hesitou e continuou – Gritavas, Alex, quase imploravas aos prantos: “Não, por favor não! Deixa-me em paz, não quero ser como tu…”. Depois, começaram a parar, graças a Deus. Foi um tempo muito difícil, tu recusavas-te a dormir porque tinhas medo que ele viesse.

- Quem? Sabes de quem eu tinha medo? – Fiquei espantado com a história que ela me contava, não me lembrava dessa altura; o que será que me metia tanto medo – De quê que eu tinha medo?

- Não sei, Alex. Nunca conseguiste contar-me – manteve sempre o olhar sereno na estrada, nem uma única vez olhou para mim; mas a sua voz soou preocupada e magoada.

Consigo imagina-la, mãe solteira, a abraçar-me tentando acalmar-me todas as noites escuras.

- Se… Se pudesse, tinha tomado o teu lugar naquelas noites – e, acrescentou olhando-me nos olhos por alguns segundos.

(continua...)