sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Profecia - Cap.Um

(continuação)

Se tivesse que definir a minha relação com Sarah através de uma palavra seria fantástica; impossível ser definida como uma relação normal entre mãe e filho; nunca havia discussões, vivemos sempre em plena harmonia – talvez essa relação se deva muito ao facto de o meu pai nos ter abandonado, ainda mesmo antes de eu ter nascido. Sarah foi, mais uma entre tantas outras jovens iludidas pelos seus namorados, mãe solteira. Sozinha teve de lutar para me criar e enfrentar a desilusão dos pais que não aceitaram esta situação de ânimo leve.

Do meu pai não tenho nenhuma lembrança – nem sentia necessidade delas -, nem sequer um nome. Sarah nunca falava dele e eu respeitava-a, estava no seu direito de esquecer – afinal de contas não foi o que ele fez?!

Sempre a admirei por tudo que passou e ainda conseguir manter aquele sorriso radiante e um humor excepcional. Sinto que herdei dela toda a sua disposição, alegria e humor; por vezes parecíamos irmãos e não mãe e filho. Sarah tinha uma regra da qual não abdicava: nesta família não existe lugar para lágrimas nem tristezas, vivamos cada segundo da vida a sorrir. Apenas a sua super protecção de mãe poderia destabilizar aquela harmonia perfeita se eu não fosse extremamente paciente – nunca percebi qual a razão de tanta protecção, mas realmente nunca me incomodou muito, sempre o associei ao facto de ter sido mãe solteira.

Por mais que me esforce, nunca irei entender o que leva um homem a abandonar uma mulher como Sarah. Ela possuía todas as qualidades que um homem procura numa mulher: linda; graciosa; espirituosa; dedicada - uma mulher como poucas.

- O que foi? – Perguntou-me Sarah, interrompendo o meu pensamento.

- Nada! Estava só a ver se me esquivava do trabalho duro – gracejei.

- Nem penses que te safas! – Apontou para os sacos - E como estás tão bem disposto, ficas com esses dois sacos por tua conta – e deu-me uma palmadinha no ombro enquanto se dirigia para a entrada.

- Muito obrigada! Até estava mesmo com vontade de fazer um pouco de levantamento de pesos – levantei-os e fingi que estavam demasiados pesados – Ufa! Isto é pesado!

Sarah perante o meu fingimento fez um trejeito com a boca e mostrou-me a língua.

(continua...)

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