sábado, 26 de dezembro de 2009

Feliz Natal e Bom Ano 2010

DIA DE NATAL
DIA DE AMOR E ALEGRIA
UM DIA SEM IGUAL
PASSADO COM EUFORIA

DIA DA FAMILIA
DE ESQUECER A DOR
DIA DE PERDOAR E SENTIR ALEGRIA
E DEIXAR ENTRAR O AMOR

NOVO ANO PRESTES A NASCER
UM CORAÇÃO A BATER
RENOVA A ESPERANÇA
DE REALIZAR O SONHO DE CRIANÇA.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Profecia - Capitulo Um

(continuação)

Sarah ainda estava dentro do carro, mas tinha passado para o lugar do passageiro onde eu estava, ficando mesmo ao meu lado. Não precisava de ver o seu rosto para perceber a sua preocupação, aliás conseguia ouvir a sua respiração ofegante.

- Estás bem? – Perguntou-me com o tom de voz quase inaudível.

Suspirei e deixei cair o meu rosto para o lado.

- Queres ir ao hospital?

- Não é preciso… Estou bem! – Respondi-lhe com a voz fraca devido ao esforço.

- Tens a certeza?

- Tenho. Já estou bem melhor.

Senti os seus olhos reprovadores na minha nuca.

- A sério. Está tudo bem… - disse enquanto me levantava com dificuldade. - Podemos ir. – Entrei no carro assim que ela voltou para o lugar do condutor.

- OK! Está bem – ela concordou sem grande confiança. – Mas, meu menino se piorares… Hospital. Percebido? Não quero amuos nem resmunguice… - e, acrescentou com o seu melhor tom autoritário que conseguia fazer.

Assenti.

Perfeito. Vai ser sem dúvida uma longa viagem. Sarah, a mãe demasiado protectora começava a atacar; fazia lembrar as leoas a cuidar das suas crias, da National Geografic, defendiam-nas de todos os perigos com garras e dentes. Sarah vai ficar de vigia toda a viajem; mas que sorte! Oficialmente todo o meu esforço matinal para não a preocupar devido a um sonho idiota foi claramente um fracasso – um sonho idiota, como podia causar tantos problemas? O melhor é não pensar mais nisso, já tinha dado problemas que chegue.

Como um sonho tão idiota conseguia perturbar-me daquela maneira? Sim, não era o sonho em si que me fazia sentir assim, era sim, aquele gosto na minha saliva, o sangue daquelas pobres criaturas – tão doce… Abanei a cabeça. Precisava urgentemente de uma distracção, puxei os auscultadores e recomecei a ouvir as minhas melodias.

Suspirei e fechei os olhos.

Algum tempo depois já me sentia bem melhor, todo aquele enjoo passara, foi então que inconscientemente voltei aquela gruta; mas desta vez algo diferente chamou a minha atenção. Aquelas duas pessoas procuravam alguma coisa que acabaram por encontrar – que parece ter sido fatal -, Mike (o homem do meu sonho) tinha nas mãos qualquer coisa que ditou a sua morte e a de Laura. Um documento? Não me consigo lembrar exactamente o que era… Perfeito! Muito conveniente, o que supostamente devo lembrar é exactamente o que a minha memória decidiu apagar… Espera! Lembra-te! O que foi que Mike disse?

“…uma profecia sobre o fim do mundo…”

E depois aquela voz…

O que estava escrito naquele documento? Abanei a cabeça. O que quer que lá estivesse escrito, e o que foi dito, não importa; afinal foi apenas um sonho…

Procurei concentrar-me na música; aquela história já me tinha dado dores de cabeça que chegue – conseguia sentir os olhos de Sarah a repousar em mim quase de dois em dois segundos. Um dia de mudança brilhante, não podia ser melhor… Felizmente, acabei por mergulhar por completo na música e adormeci – um sono tão calmo e suave sem sonhos (pelo menos que consiga lembrar-me), não senti nada durante o resto da viagem nem os olhos vigilantes de Sarah – apesar de ter a certeza que continuava a vigiar-me.

(continua...)

sábado, 28 de novembro de 2009

Profecia - Cap.Um.

(continuação)

Pude ver o brilho dos seus grandes olhos azuis, estavam húmidos, pelo que não continuei, e também porque não queria lembrar-me deles como não queria lembrar do mais recente.

O silêncio que ficou entre nós apenas era quebrado pelo barulho do motor do carro – não porque fizesse um barulho ensurdecedor, ao contrário era bastante sereno. Queria pensar que ela não iria querer saber sobre este pesadelo, mas conhecia-a melhor do que ninguém; sabia que me ia perguntar, estava apenas à procura da melhor maneira para o fazer. Conseguia percebê-lo, porque estava irrequieta, os dedos batiam freneticamente no volante – ela ia acabar por perguntar.

Na minha cabeça repetia vezes sem conta: “Não me perguntes nada, por favor, não me perguntes nada…”

- Alex? – Ela hesitou. – E deste, lembras-te de alguma coisa? – E baixou o tom da sua voz.

Nesse momento o que eu mais receava aconteceu: o rosto aterrorizado de Laura, os seus gritos e os olhos a transbordar de medo e terror… - lembrei-me e um arrepio subiu pela minha coluna fazendo-me estremecer.

- Não – menti, tentando com esforço esconder o nervosismo na minha voz e olhei pela janela. Se lhe respondesse que sim, seria obrigado a lembrar-me de mais pormenores que não queria rever. – Não deve ter sido nada de importante, apenas um pesadelo… Acho que foi mais um sonho do que um pesadelo… Não sei, não me lembro sequer sobre o que era… - Atropelei as palavras, acontecia sempre quando tentava esconder-lhe alguma coisa.

Ela disse que eu nunca consegui contar-lhe sobre os outros, será que lhe mentira como agora? Será que eu lhe dizia que não me lembrava de nada quando de facto lembrava de tudo? Comecei a sentir-me ainda mais culpado.

Uma das coisas que sempre odiei era mentir-lhe; pelo menos umas delas era verdade, de facto não se semelhava a um pesadelo, era mais um sonho – não acordei aos gritos. O que mais me impressionou naquele estranho sonho foi a forma como parecia real, como se conseguisse ver com os meus próprios olhos, era como se conseguisse sentir e cheirar o próprio sangue morno – quase podia jurar que senti o sabor do sangue na minha saliva – morno, suave e, estranhamente, doce… Doce? Porque senti o sangue doce?

Estremeci.

- Hum… Ok! – Ela concentrou-se na condução e fingiu aceitar a minha meia mentira.

A minha cabeça recomeçava a rodar, relembrar foi um erro – um enorme erro. A sensação de enjoo não podia ter surgido em pior altura, com o movimento do carro só aumentava, até que transformou-se numa sensação de vómito – não podia ser em pior altura, mesmo. O meu estômago estava decidido em provocar uma daquelas revoluções – espera, mas eu não comi! O que pode haver num estômago vazio para expulsar? Não iria ceder, pensei em todas as maneiras possíveis para me distrair – a cabeça doía-me com o esforço. Pensar não era a melhor solução. Por isso, agarrei nos auscultadores tentando parecer o mais normal possível (se isso fosse possível), rapidamente procurei no mp3 uma das minhas músicas preferidas que logo começou a tocar. Encostei a cabeça e com a ajuda da música tentei (em vão) distrair-me daquela sensação. Oh! Não! Não, isto não está a acontecer. O meu pensamento pedia – não, implorava: “não por favor fica muito quieto, estamos quase a chegar… Não há razão para ficares revoltado!” – o meu estômago, simplesmente, ignorou-me. A sua intenção era provocar uma revolução – uma daquelas! Oh, sorte!

- Está tudo bem, Alex?

Não! Conseguia sentir uma estranha sensação a subir pela minha garganta seguindo o trajecto da minha boca – agora não há nada a fazer.

- Estás pálido, deve ter sido de não comeres nada… Estou sempre a avisar-te… - Deixei de a ouvir, a sua voz esfumavas no ar; quando não conseguia conter mais aquela sensação… tive de gritar:

- Pára! – Levei as mãos à boca.

O carro quase derrapou no pavimento, com a travagem brusca que a obriguei a fazer, ouvindo-se o guinchar dos pneus e o buzinar irritado dos outros condutores. Mal o carro se imobilizou na berma da estrada, abri a porta de rompante e caí de joelhos – uma sensação horrível. Sentia o meu estômago a arder, a cabeça zonza e na garganta um gosto horrível - o meu estômago conseguiu o que pretendia. Depois de uns segundos uma estranha sensação de alívio invadiu o meu corpo fazendo-me relaxar e a cabeça parar de girar. Respirei fundo e deixei-me cair, sentado no chão encostado ao carro. O alívio que sentia era tão reconfortante: “Ufa… que alívio!”

(continua...)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Prof.Sang.-Transf.-Cap.Um

(continuação)

- Estás a ouvir-me? – Sarah arrancou os auscultadores dos meus ouvidos para me chamar a atenção. – Estou aqui a falar para o boneco, a falar a falar e tu não dizes nada… Passa-se alguma coisa, estás doente? – E levou a mão à minha testa a examinar se tinha febre.

- Estou bem! – Afastei-lhe a mão e ela repreendeu-me com o olhar. – Apenas tive uma noite difícil – e, a sobrancelha levantou-se pelo que aprecei-me a acrescentar – Tive um pesadelo. Não tens razões para te preocupares, não foi nada, a sério…

Agarrei nos auscultadores na esperança que ela não me perguntasse nada sobre esse pesadelo, não estava com a mínima vontade de lembrar-me dele. Aliás, não estava com vontade de falar sobre nada, apenas queria ouvir a minha música e lembrar-me de Kelly – o rosto doce, meigo de Kelly.

- Podias-me ter chamado que eu preparava-te alguma coisa…

- Mãe! Tenho quase 18 anos, acho que consigo sobrevier a um pesadelo – sorri, tentando esconder o nervosismo, só queria que não me perguntasse sobre ele…

- Uh… Tiveste um pesadelo? Que tipo de pesadelo? Lembras-te dele?

A minha esperança caiu por terra, porque tinha de falar nele? Agora não posso fugir, vou ter de me lembrar…

- Não tens pesadelos desde que tu eras pequeno – o sorriso dos seus olhos apagaram-se.

- Eu tinha pesadelos? – Inquiri. Não estava certo se queria saber.

- Sim… Eu ficava desesperada, queria ajudar-te a dormir mas não conseguia – a voz sumia-se enquanto falava, quase não conseguia perceber as suas palavras. – Sempre que fechavas os olhos começavas a gritar e choravas… hesitou e continuou – Gritavas, Alex, quase imploravas aos prantos: “Não, por favor não! Deixa-me em paz, não quero ser como tu…”. Depois, começaram a parar, graças a Deus. Foi um tempo muito difícil, tu recusavas-te a dormir porque tinhas medo que ele viesse.

- Quem? Sabes de quem eu tinha medo? – Fiquei espantado com a história que ela me contava, não me lembrava dessa altura; o que será que me metia tanto medo – De quê que eu tinha medo?

- Não sei, Alex. Nunca conseguiste contar-me – manteve sempre o olhar sereno na estrada, nem uma única vez olhou para mim; mas a sua voz soou preocupada e magoada.

Consigo imagina-la, mãe solteira, a abraçar-me tentando acalmar-me todas as noites escuras.

- Se… Se pudesse, tinha tomado o teu lugar naquelas noites – e, acrescentou olhando-me nos olhos por alguns segundos.

(continua...)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Prof.Sang.-Transf. - Cap.Um

(continuação)

Umas calças de ganga, – guardei a fotografia no bolso -, uma t-shirt e, não podiam faltar as minhas sapatilhas all-stars favoritas. Perfeito. Em menos de nada tudo pronto; levei as caixas todas que estavam no meu quarto para serem carregadas no camião das mudanças, a maior parte das coisas já tinham sido mandadas para a nova morada.

Pronto, tudo arrumado.

Sarah entregou a morada ao motorista do camião das mudanças e teve de tratar de algumas formalidades, para as quais nunca tive paciência. Burocracias e mais burocracias, até me enjoam. A viagem prometia ser longa, a minha cabeça começava a dar sinais de cansaço, ainda bem que sempre fui uma pessoa preparada de mp3 sempre à mão pronto a fazer-me viajar pelas doces melodias das minhas bandas favoritas. Mas, mesmo as músicas não conseguiam afastar um estranho sentimento que sentia rasgar o meu peito e um aperto no fundo da garganta – nem acredito que nunca mais a vou ver… Suspirei, uma tentativa vã de afastar aquela sensação. Dirigi-me ao carro que já estava na estrada pronto para a viajem, onde Sarah já me esperava. Apesar de as viagens de avião serem muito mais rápidas e mais seguras, Sarah preferia ir a conduzir – sempre gostou de sentir a terra perto dos pés.

- Vamos? – Quase não conseguia ouvir a sua voz devido ao volume do mp3. Assenti com a cabeça e ela arrancou.

Quando arrancou encostei a cabeça ao apoio do banco, cruzei as pernas no assento, fechei os olhos e fiquei a ouvir a música nos auscultadores. A primeira imagem que me surgiu na minha mente foi o rosto de Kelly – belo, perfeito -, sorria para mim e os seus olhos verdes prendiam os meus. Percebi que Sarah estava a falar comigo alguma coisa – falava qualquer coisa como “vais ver que vais gostar e fazer novos amigos…” -, não conseguia ouvir nitidamente; mantive os olhos fechados, não queria perder aquela imagem. De repente, deixei de ouvir as doces melodias ao mesmo tempo que senti um esticão.

(continua....)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Prof.Sang.-Transf. - Cap.Um

(continuação)

O cansaço começava a vencer-me, deitei-me com a fotografia na mão. E acabei por adormecer, não sei ao certo quanto tempo dormi; o despertador não tocou – devo-me ter esquecido de o activar. Sarah acordou-me – como sempre tinha de o fazer -, tocou-me no rosto e estremeci.

- Acorda meu dorminhoco. Temos de ir… - espreguicei-me – Anda lá. Todos os dias é a mesma coisa, não penses que hoje vou ser tão paciente como nos outros dias – ia a sair do meu quarto quando elevou a voz. – Levanta-te, estou a falar a sério – disse da porta.

Sempre odiei levantar-me cedo, um sacrifício, principalmente depois de uma noite mal dormida como era o caso. Espreguicei-me mais uma vez – uma tentativa frustrada de afastar o sono que persistia -, e reparei que ainda tinha na mão a fotografia de Kelly; não a tinha largado durante toda a noite. Sorri para ela, já tinha saudades.

Apesar de ter dormido pouco, e de todo aquele enjoo e mal-estar, que me perturbou o sono, sentia-me bem; quase estranhei quando nenhuma névoa perturbou a visão e a minha cabeça, que não parava de rodar, mantinha-me firme. O chão parecia ter feito as pazes comigo, não deslizava nos meus pés tentando derrubar-me. O meu quarto – ou ex-quarto –, completamente iluminado pelo sol, não parecia perigoso, a armadilha foi desarmada pela luz quente e brilhante (mesmo assim, tratando-se de mim, todo o cuidado é pouco).

“É hoje que tudo muda. A mudança de vida. Uma nova aventura” – este pensamento provocou-me um estranho aperto no coração. O que estará à minha espera? Lembrei-me de outra razão que me desfazia o peito em pequenos pedaços: ficar longe de Kelly… Como iria sobreviver sem ela?

- Alex?! – Sarah chamou interrompendo a minha linha de pensamento. – Despacha-te – e, gritou da porta fazendo-me estremecer.

- Já vou!

Olhei em volta à procura da roupa que tinha deixado de parte.

- Onde será que deixei… Ah! Está aqui.

(continua...)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Prof.Sang.-Transf. - Cap.Um

(continuação)

Nas minhas mãos em forma de concha, a água parecia uma tela que reproduzia o rosto de Laura - o rosto da vítima consciente da sua morte, fixos nos olhos do seu assassino. Num impulso abri as mãos e o seu rosto desfez-se com o correr da água; molhei novamente o rosto sem olhar – queria esquecer aquele sonho ridículo, de pessoas que não conhecia, e um lugar que nunca vira.

Finalmente o enjoo davas sinal de abrandar, não totalmente, mas, pelo menos, já me permitia voltar para o meu quarto, sem correr o risco de derrubar alguma coisa no caminho – o que duvidava graças à minha crescente tendência para isso.

Uma serena e suave luz iluminava o quarto escuro. Conseguia ver as caixas no chão – agradeci, pois seria mais fácil tentar não tropeçar nelas -, contornei-as com cuidado, mas em vão, ainda embati numa delas. Gemi. Com o ligeiro tremor provocado pelo embate, a caixa entreabriu-se e pude ver o que continha lá dentro – as coisas do liceu (fotografias, troféus…). Abri a caixa com cuidado – já não ia conseguir dormir -, estava cheia até ao topo. Um cofre de lembranças. Nunca tive razões de queixa do liceu, não fui popular, mas, também não pertencia ao grupo dos torturados. Bons tempos…

Não me lembrava de ter tirado tantas fotografias; um pequeno álbum chamou a minha atenção. Peguei nele, não me lembrava dele, só quando o abri, percebi que não era meu. Na primeira página estava escrito, numa escrita perfeita:

“Para o meu melhor amigo. Nunca te vou esquecer, e espero que nunca te esqueças de mim. Guarda isto como um tesouro, perto do coração. Adoro-te. Beijos Kelly.”

Um presente de despedida; senti os meus olhos húmidos à medida que esfolheava cada página. Kelly, sempre foi uma amante de fotografia, e era óptima fotógrafa, conseguia imagens fantásticas. Ofereceu-me um álbum de fotografias nossas, repleto delas; tirava fotografias por tudo e por nada, fazia questão de registar todos os momentos – sorrisos, gargalhadas, caretas… Detive-me numa em particular, lembrava-me perfeitamente daquela fotografia – foi o dia em que consegui tirar-lhe a máquina, ela não queria -, ainda me conseguia lembrar desse dia perfeitamente.

- Alex pára. Estou a avisar-te, devolve-me a câmara – tentava tirar-me a máquina.

- É a minha vez…Vá lá, Kelly, um sorriso… - ela suspirou e um sorriso brilhante rasgou-lhe o rosto. – Assim já gosto mais - e, tirei a fotografia.

A minha fotografia favorita, não por ter sido eu a tirá-la, mas por ser uma fotografia dela – só dela. Estava linda, os olhos verdes brilhavam, as suas feições estavam perfeitas, numa pele suave branca como a neve, com um ligeiro rubor nas faces devido ao esforço.

(continua...)

domingo, 20 de setembro de 2009

Profecia de Sangue - Transformação - Cap.Um

(continuação)

***

Acordei.

Pisquei os olhos adaptando-os à escuridão. O quarto ainda estava escuro, apenas uma suave claridade entrava pela janela. Olhei para o relógio, ainda era de madrugada – 5h00 da manhã. Sentei-me na cama, começava a lembrar-me o motivo que me acordou, um pesadelo? Ou um sonho? Sim, um sonho, apenas um sonho. Nunca me lembro dos meus sonhos, mas aquele… Eu não estava nele, outras pessoas eram protagonistas, e, eu era um mero espectador.

Acordei um pouco mal disposto, enjoado. Mesmo antes de acordar, no meu sonho, consegui ver nitidamente que aquelas duas estranhas personagens estavam a ser atacadas por alguma coisa, isso deixou-me agoniado. Levantei-me, quando o fiz quase tropecei num dos caixotes, que deixei espalhados pelo chão – caixas para a mudança. O último dia de férias. No dia anterior, preparei tudo para levar, rumo a uma nova vida; uma nova aventura. Deviam de estar na garagem, bem que Sarah me avisou, como acabei tarde de empacotar todas as coisas deixei-as ali – não pensava em levantar-me tão cedo. Para não embater em mais nada, fui as apalpadelas, carreguei no interruptor mas nada aconteceu – Sarah mandou cortar a luz. Não poderia ser pior, para além de a minha cabeça andar a roda ainda tinha de adivinhar onde estavam os obstáculos – ainda bem que sempre fui dotado de boa memória e a casa ser de rés-do-chão, se tentasse descer escadas iria cair, de certeza. Não queria acordar Sarah, tentei abrir a porta do quarto sem fazer barulho; mas esta rangeu – um leve murmúrio no escuro. Sarah dormia sempre com a porta aberta e aquela noite não foi excepção. Senti-a mexer-se suavemente na cama, virou-se e ouvi um profundo suspiro – estaria também a sonhar? O ranger da porta não a acordou. Dormia profundamente, em alguns momentos suspirava, se estava a sonhar, não seria um sonho igual ao meu.

Deslizei até à cozinha – no fundo do corredor – tentando, mas em vão, caminhar suavemente como se estivesse a pisar uma nuvem, tal como um gato; mas, claro que não consegui, os meus passos lentos pareciam ainda mais pesados naquela escuridão, e, ainda mais por ser a minha intenção não fazer barulho. Tudo funcionava ao contrário do que eu pretendia. Na cozinha, a tarefa de não fazer barulho parecia impossível. E a minha cabeça, ainda não tinha parado de andar à roda e a sensação de enjoo aumentou com o esforço. Encostei a porta, para conseguir abafar o som; uma cadeira estava ligeiramente afastada que me permitia sentar sem ter de movê-la – fiquei grato a quem a deixou assim -, procurei no armário um copo; por sorte, um tinha ficado esquecido, peguei nele. Na mesa, Sarah deixou uma garrafa de água - completamente cheia, de certo para a viagem -, deitem um pouco no copo, sentei-me na cadeira e bebi de uma vez só. O mal-estar persistia, mantive-me sentado, com a cabeça pausada nos braços, cruzados sobre a mesa.

Fechei os olhos por uns momentos; e, os olhos arregalados de horror daquela mulher – Laura, era como lhe chamava a outra personagem do meu sonho -, voltaram. Foi um sonho, tentava lembrar-me a mim mesmo, parecia demasiado real. O seu rosto ficou gravado na minha memória, nunca iria esquecer aquela expressão de dor, medo, de puro terror – mesmo sendo apenas um sonho. Acordei antes de conseguir ver o rosto do seu assassino – ou, será que me esqueci. O que os terá assustado tanto? Um urso, lobo? Ou será que era… Nos sonhos costumam aparecer as coisas mais inacreditáveis. Criaturas mágicas, míticas… Mas porquê? Porque sonhei este sonho? Os sonhos não têm razão, e muito menos sentido, mas não deveria ser eu a aparecer nesse sonho?

Levantei-me, depressa de mais pelo que parece, a minha cabeça girou. O enjoo não passou, piorara. Devagar abri a porta e fui até à casa de banho; o esforço adicional para não fazer barulho só conseguia pôr-me ainda pior – como se isso fosse possível. Fantástico, o dia prometia, já começava a detestar aquela mudança. Pelo menos não tive de ter um cuidado adicional para abrir a porta da casa de banho, visto que esta estava já aberta – o que me agradou, já não suportava todo aquele esforço de parecer um gato silencioso na noite.

No espelho - quase não me reconheci – revelou-se um rosto demasiado pálido. Os meus olhos, enevoados, não me deixavam ver nitidamente o que estava à minha volta. Nada a fazer, os meus esforços iam mesmo por água abaixo; abri a torneira e um fio de água começou a correr; lavei a cara com um pouco de água fria, só esperava que aquilo ajudasse e que Sarah não acordasse – não estava com disposição para a sua preocupação excessiva.

Nas minhas mãos em forma de concha, a água parecia uma tela que reproduzia o rosto de Laura - o rosto da vítima consciente da sua morte, fixos nos olhos do seu assassino.

(continua...)

sábado, 19 de setembro de 2009

Profecia de Sangue - Transformação - Prefácio

Prefácio

Nunca fui um crente – até agora.

Como qualquer outro adolescente, perto da idade adulta – ou, antes como gostamos de pensar -, tive os meus sonhos. Sonhei entrar numa Universidade, tirar a minha formação em medicina; tornar-me num grande médico. Todos os meus sonhos, começavam a acontecer – até, Kelly estava comigo. Mas, todos eles foram interrompidos brutalmente por uma questão de destino – ou pré-destinação.

Mitos, lendas, verdades absolutas. Quem as conhece? Muitos escondem-se debaixo de explicações racionais, outros na religião; poucos admitem acreditar, e muito menos, de ter visto. Os que defendem a sua existência são chamados de loucos e são internados. Eu pertencia ao grupo dos racionais; mal sabia o que me esperava.

Atormentado pelo destino que me foi reservado, duas escolhas que não podia adiar: morrer ou transformar-me naquilo que começava a odiar mais do que a própria morte. A minha escolha estava tomada: morrer; preferia a morte à imortalidade, mas parece que o destino não estava a meu favor.

E, sem conseguir resistir, sem conseguir fugir daquela atracção – doce e sedutora - que me puxava para o meu destino fatal; caminhei com ele, até ao seu covil e naquela noite escura, sem estrelas nem luar, fui incapaz de lhe negar o que ele mais ansiava – transformar-me. Rápido, penoso; uma dor inesquecível dilacerou a minha mente e o meu corpo; num movimento automático, rompeu a pele e a carne do meu pescoço; senti o meu sangue, ainda morno, a deslizar pela minha pele e os meus gritos a ecoarem nos ouvidos – naquele momento queria morrer; uma morte rápida e humana; apenas queria o fim de tanta dor.

Sempre me disseram que a vida é cruel; e a morte? Comparada com isto, deve ser, bem mais doce; mas isso parece que nunca poderei saber. Nunca desejei tanto que o manto da morte me levasse com ela para longe; longe disto – longe do sofrimento imortal.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Profecia de Sangue....

Algumas alterações estão a ser realizadas na história: "Profecia de Sangue"....
O conteúdo mantém-se, apenas pensei em contá-la na 1 pessoa... e, um novo capitulo surgiu em que parte dele já está neste blog... surge um prefácio....
O capitulo : Estranho Vigilante passa a ser o capitulo 2.(verificar indice...)
Obrigada por lerem... e pela compreenção...
sempre que uma alteração se verificar postarei uma informação...(todas as histórias começam como um rascunho)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Profecia de Sangue - Transformação - Indice (rascunho)


Prefácio
Capitulo Um - Mudança
Capitulo Dois - Estranho Vigilante
Captitulo Três - Pesadelos
Capitulo Quatro - O Bilhete
Capitulo Cinco - A Visita
Capitulo Seis - Coincidências
Capitulo Sete - Sinais
Capitulo Oito - Confissão
Capitulo Nove - Emboscada
Capitulo Dez - Perseguisão
Capitulo Onze - O Pedido
Capitulo Doze - Refúgio
Capitulo Treze - Rastro
Capitulo Quatorze - Ritual
Capitulo Quinze - Despertar
Capitulo Dezasseis - Luz do Sol
Capitulo Dezassete - O Encontro
Capitulo Dezoito - Sede
Capitulo Dezanove - Fuga
Capitulo Vinte - Confronto
Capitulo Vinte e Um - Instinto
Capitulo Vinte e Dois - Despedida
Epílogo

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Profecia de Sangue - Transformação - Cap. Um

Mudança

Nunca poderiam ter adivinhado que seria naquela caverna escura e húmida que a sua vida de aventureiros arqueólogos terminaria. Se, pudessem adivinhar, certamente nunca teriam embarcado nesta louca descoberta.

Algures numa floresta ainda virgem, vasculhavam uma descoberta, nem eles sabiam bem do quê ao certo, que jamais alguém tivesse descoberto. Entraram nas profundezas de uma floresta sem nome, onde acabariam por ficar esquecidos para sempre.

Os seus olhos bem treinados de arqueólogos habituados à aventura, como se do próprio Indiana Jones se tratasse, avistaram uma caverna. Parecia abandonada, não se viam nem animais perto dela. Cautelosos, aproximaram-se, sem fazer ruído, afinal de contas podia ser a gruta de algum urso, ou mesmo outro animal feroz. Nada, nem um ruído, a caverna era um vazio. A sua curiosidade de aventureiros aumentava a cada respiração, o coração pulsava dentro do peito com feroz ansiedade. Tinham de ver.

Mike procurou nos bolsos das suas calças, típicas de montanha, uma lanterna pequena que carregava consigo por todo o lado, ligou-a e preparou-se para entrar. Era bastante alto e por isso teve que se baixar para não bater com a cabeça. Laura, a sua esposa, também arqueóloga, seguia o seu marido em todas as suas aventuras e aquela não era a excepção. Mais baixa que ele não teve necessidade de se baixar, a entrada da caverna era mesmo ao seu nível.

Lá dentro uma escuridão total e um odor muito estranho a morte. Sentiam que tinham entrado no covil do próprio demónio. A escuridão era imensa, que quase que a lanterna se tornava inútil. Mas nada os detinha, tinham de ir ver. Entraram nas entranhas da caverna e o cheiro tornava-se cada vez mais acentuado.

Os olhos, bem treinados, de Mike saltaram de imediato para algo que brilhava numa espécie de fenda. Dirigiu-se até lá como que hipnotizado.

- Onde vais Mike? Espera por mim? O que se passa, que estás a ver? – perguntava-lhe Laura enquanto procurava seguir-lhe o olhar.

Mike parecia hipnotizado por aquele pequeno brilho que insistia em chamá-lo. Aproximou-se, olhou mais de perto e colocou a mão na fenda retirando de lá uma espécie de tubo comprido. Acariciou-o e notou que deveria ser muito antigo devido ao seu aspecto, era feito de pele, não consegui perceber bem que tipo de pele, quase parecia de pele humana, só a ideia o fez estremecer. A tampa era peculiar e estranha ao mesmo tempo, era claramente de prata e na superfície uma cruz se formava, foi brilho que o tinha atraído. Segurou com força no estranho objecto que tinham encontrado e com o largo sorriso olhou para Laura.

- Conseguimos Laura, fizemos uma descoberta.

- Sim, eu sabia que não íamos sair daqui de mãos a abanar. Já viste bem este lugar, é claro que devia de haver aqui alguma coisa para descobrirmos. Mas o que será isto? A tampa é muito, estranha, não achas? Porque será que lhe puseram uma tampa de prata com uma cruz? E esta cobertura, mas que pele estranha? – Laura não conseguia esconder a sua curiosidade e entusiasmo.

- Não sei. Mas tens razão, este objecto é muito estranho. De certeza que esconde algum segredo. Olha, queres ver que encontramos o segredo do Santo Graal? – disse Mike em tom de brincadeira.

- Nunca se sabe. Mas que estás as espera, abre para vermos o que ê. – encorajou sem esconder a ansiedade.

Sem mais demoras, Mike tentou abrir o tubo, mas parecia não conseguir, estava demasiado apertado, de certo pela humidade. Para conseguir fazer mais força entregou a pequena lanterna que tinha na mão a Laura para que ela o pudesse iluminar enquanto tentava rodar a tampa. Quando mais uma vez tentava demover a tampa algo o fez parar.

- O que foi? – Perguntou Laura.

- Não sei. Parece que ouvi alguma coisa. Não ouviste nada?

- Não. Deve ter sido a tua imaginação. Ou então estás a ver se me consegues pôr ainda mais ansiosa do que estou. Para lá com isso, abre.

Abanou suavemente a cabeça, afastando possíveis fantasmas da sua imaginação e concentrou-se novamente no estava a fazer. Aquele pequeno tubo teimava em não querer revelar-lhe o seu segredo. Pensou para si mesmo que “talvez aquele segredo deveria permanecer assim e por isso não queria ser revelado”, mas a sua curiosidade de arqueólogo era mais teimosa e de tanta insistência acabou mesmo por abrir. Lá dentro uma folha de papel amarelada do tempo, era sem dúvida um documento antigo e genuíno. Com um cuidado meticuloso retirou o conteúdo, estava enrolado na forma do tubo onde tinha sido há muito guardado. Procuraram desenrolar devagar, o precioso documento que tinham nas mãos, de forma a não danificá-lo.

Por fim, puderam ver o misterioso segredo que ali se escondia. O documento tinha uma dimensão considerável, uma folha única, comprida, que ambos tiveram de segurá-lo para o puder ver melhor. O título escrito claramente à mão em letras garrafais, num intenso vermelho que lembrava a cor de sangue e que tudo tinha a ver com o que estava escrito.

“Profecia de Sangue”.

- O que é isto? – questionava-se Laura assombrada com o documento que estava mesmo a sua frente.

- Não sei, mas pelo que parece trata-se de uma profecia sobre o fim do mundo… - disse Mike quando foi interrompido por uma voz forte vinda das suas costas.

- Eu não diria isso…

Ambos se viraram num impulso. Não estavam sozinhos naquelas trevas. Olharam para a estranha criatura que há muito os observava. A lanterna caiu, a escuridão instalou-se, um grito de desespero e depois mais nada, apenas o silêncio.

(continua...)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Contador de Histórias - Prólogo

Não existe nada pior para uma criança, em tenra idade, do que, de um dia para o outro, perder aquilo que mais ama, a sua família, e ficar completamente só no mundo sem qualquer pista do caminho a seguir.
Eu, fui uma dessas crianças, que cedo teve de enfrentar a dor da perda dos meus pais, que me deixaram de forma tão trágica, e a dúvida de um futuro desconhecido. O meu nome, Ryan Adams. Vou vos contar uma história da qual eu sou o protagonista, e nela vos vou revelar a minha infância, a perda dos meus pais até a chegada ao orfanato, onde conheci o Sr. Jorge Thomas, o melhor contador de histórias que alguma vez conheci, e que me ajudou a superar toda a tristeza que me sufocava o peito.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Medo

Tenho medo de viver
Tenho medo de morrer
Tenho medo de sonhar
E de um dia acordar


Tenho medo do sofrimento
Tenho medo de me arrepender
Tenho medo do pensamento
De um dia crescer


Tenho medo de errar
Tenho medo do mar
Tenho medo da Terra
E de tudo o que ela encerra


Tenho medo de ficar só
Tenho medo de gostar
Tenho medo do sol
E da luz do luar


Tenho medo de me encontrar
Tenho medo de descobrir quem sou
Tenho medo de não me perdoar
Por não saber para onde vou.

Receita da Felicidade

Queria encontrar
A Receita perfeita
Mas, não sei onde a procurar
nem mesmo como ela é feita


São muitos os que a procuram
Mas poucos aqueles que a encontraram
Os que a têm, o segredo não podem revelar
Os que a procuram não a deixar de procurar


Segredo bem escondido
Num pequeno cofrinho
Debaixo de terra ou mar
Onde poderá estar?


A Receita da Felicidade
Todos a querem encontrar
Mas a grande verdade
É que ninguém a pode fabricar.

Cansada

Estou cansada do mundo
Cansada de viver sem rumo
Cansada de não ter nada
e de ficar amuada


Estou cansada de ficar no escuro
Cansada de quase tudo
Cansada de sonhar
Para depois acordar.

Sorte/Azar

A Sorte foge de mim
O Azar teima em não ir
Teima em não me deixar
Para a Sorte me Libertar


O que posso fazer
Para este destino mudar
Quanto tempo tenho de viver
Para o Azar me deixar


Quero experimentar
O doce sabor da vitória
O gosto de ganhar
De por fim saborear a glória.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Coração de Nazul - Cap. Seis

Capitulo Seis

Grima esperava na sua caverna pelos seus lacaios, andava de um lado para o outro, ansioso com a chegada deles, esperava que trouxessem aquilo por que tanto ansiava. Depois de uma longa espera, finalmente chegaram, mas para descontentamento de Grima vinham sem nada, não conseguiram cumprir as suas ordens.

“Onde está?” – perguntou furioso.

“Escapou-nos mestre!”

“Como é que ele vos escapou? Imprestáveis! Como é que vos escapou um miúdo que não faz ideia de quem é?”

“Não era um miúdo mestre! Era uma rapariga senhor, que nos escapou graças à ajuda do espírito que habita o rio!”

Perante as palavras do seu servo Grima ficara intrigado: “Uma rapariga? Hum…mas, isso é impossível! Tenho a certeza de que é um rapaz! Será possível…” – ao longe, algo brilhou na escuridão que chamou a sua atenção – “Uma rapariga dizes tu!” – voltou-se em direcção aos seus lacaios e com um sorriso maléfico ordenou-lhes: “Encontrem e tragam-ma até mim com vida!”

“Sim mestre!” – e saíram em passo apressado.

Claire deslumbrada com o encanto daquele lugar não se apercebia de que estavam a ser observados. Sentia-se segura, serena, parecia que enquanto ali estivessem nada de mal lhes aconteceria. Mad Merry, ao contrário, não se deixava enganar pelas belas cores mantinha-se observador, cauteloso a cada movimento, sabia que tinham entrado num lugar de muitos perigos.

“Claire é melhor retomarmos o caminho, este lugar assusta-me e a noite aproxima-se temos de procurar abrigo!” – Mad Merry tentava chamar a atenção de Claire.

“Merry, olha bem para este lugar é lindo…”

Mesmo antes de Claire poder terminar aquilo que ia dizer, ambos começaram a sentir-se observados, mas não conseguiam ver ninguém ali perto, até que um barulho distante se fez ouvir, pareciam passos apressados. Claire e Mad Merry aproximaram-se um do outro, o medo começava a apoderar-se de suas mentes. O som que era distante tornava-se cada vez mais audível, mais perto deles, conseguiam ouvir o bater acelerado dos seus corações dentro do peito, a garganta a secar. Estavam aterrorizados, não imaginavam que criatura poderia aparecer, se era amigável ou assassina, mas, para o espanto de ambos a criatura que surgiu não parecia ser perigosa. Das sombras surgiu uma criatura pequena muito semelhante a uma criança, tinha um ar engraçado, amigável, vestido de verde que ao avista-los deu um salto para trás.

“Ai! Mas quem são vocês?” – gritou a pequena criatura – “Ah! Humanos? Vocês são humanos? Como estão aqui? Como passaram o rio? Os humanos não são permitidos aqui!”

“Quem és tu?” – perguntou Claire à pequena criatura.

“Eu sou Greenth! Sou duende desta floresta mágica!” – de forma defensiva questionou-os – “Que fazem vocês humanos aqui?”

Claire de forma calma ajoelhou-se de modo a ficar ao nível dos olhos do duende Greenth: “Venho ao encontro de Land! Tenho algo que lhe pertence!” – mostrou o colar ao duende. Greenth ao ver o colar nas mãos de Claire ficou paralisado a olhar para ele. Claire não entendia a reacção daquela estranha criatura: “O que se passa? Podes ajudar-me?”

Greenth deslocou o seu olhar do colar para os olhos de Claire: “Por todas as criaturas mágicas de Nazul, tens alguma ideia de que possuis em tuas mãos?”

“É o colar de Land! Não sei porque razão, mas tenho de o devolver!”

“Não! Não é apenas um colar! É o coração de Nazul de Land que tens nas mãos! Sem ele, Land… – hesitante – morrerá!”

Perante as palavras de Greenth Claire olhava para o colar que tinha em suas mãos, não podia imaginar a importância daquele pequeno objecto, apertou-o entre as suas delicadas mãos e aproximou-o do peito, as lágrimas corriam-lhe pela face pálida. Mad Merry apoiou-a e olhou para o duende.

“Land morto? Tens a certeza?”

“Nenhuma criatura de Nazul pode viver longe do seu coração nazul! Se Land ainda estiver vivo, pouco tempo lhe resta!” – respondeu-lhe Greenth baixando a voz.

Mas Claire não aceitava o facto de Land estar morto: “Não, não passei por tudo que passei por nada! Land não pode estar morto, sinto que ainda vive!” – dirigiu-se a Greenth decidida – “Tens de ajudar-me a encontrá-lo! Por favor leva-me até ele!”

“Eu? Mas sou um simples duende, que nunca saiu da floresta!” – respondeu-lhe Greenth.

Mad Merry olhou profundamente nos olhos de Greenth: “Por favor! Precisamos mesmo encontrá-lo, só ele pode acabar com o mal que se aproxima! Ajuda-nos, sozinhos seremos alvos fáceis para aqueles que nos perseguem!”

“Oh…Está bem! Ai no que me estou a meter! Mas aceito ajudar-vos!”

“Vamos rápido, que esperemos?” – levantou-se Claire decida a seguir caminho.

“Calma! Eu ajudo-vos, mas não podemos seguir caminho, temos de esperar! Muitos perigos escondem-se na floresta, não é prudente seguir na noite cerrada! Venham comigo até minha casa, passaremos lá a noite!”

A floresta tornava-se cada vez mais assustadora com a escuridão. Greenth estava certo, não era seguro andar por aqueles trilhos em plena noite cerrada. Claire e Mad Merry seguiram-no sem objecção, mas a vontade de Claire era a de seguir caminho chegar perto de Land e encontrá-lo vivo. Seguiram Greenth num longo trilho que começava a ficar cada vez mais estreito, já a escuridão da noite tomara o seu lugar quando finalmente chegaram até uma pequena aldeia colorida. Claire e Mad Merry ficaram maravilhados, aquele lugar encontrava-se envolvido em magia e encanto, pequenas luzes brilhantes voam no céu e vinham ao seu encontro dançando em torno deles.

“Não tenham medo! São fadas, não os vão magoar!” – explicou-lhes Greenth – “Venham por aqui!”

Continuaram a seguir Greenth até à sua pequena casa e pelo caminho surgiam outros duendes e, ainda mais fadas curiosos com os estranhos visitantes.

A casa de Greenth era muito engraçada e pequena, até à porta seguia um caminho estreito de terra de cor castanha muito clara, dava a entender que era muito bem cuidada, em toda a volta belas flores cresciam. Claire e Mad Merry nunca imaginaram tanta beleza, aquela pequena casa de duende era magnífica, mas para conseguirem passar pela porta tiveram de baixar a cabeça, lá dentro tudo era pequeno mesmo à medida de Greenth.

“Entrem! Esta é a minha humilde casa! Ficamos aqui até amanhecer e seguir caminho!”

Claire não se conformava em ter de esperar pelo amanhecer, cada momento que passava podia ser demasiado tarde para Land.

“Mas porquê esperar? Land precisa de mim, não temos muito tempo!” – refilava inquieta.

Perante as palavras de Claire, Greenth olhou-a bem nos olhos com ar sério e numa voz calma e serena tentou explicar as razões que o levavam a não querer arriscar viajar em plena noite.

“Temos de ter muita paciência! A floresta torna-se perigosa com a escuridão! E…provavelmente, algumas criaturas te procuram! Criaturas que nunca poderão apanhar o que trazes!”

Claire e Mad Merry olharam um para o outro. Voltava-lhes à memória a terrível visão daquelas horríveis criaturas que os perseguiram e invadiram a sua aldeia. De certeza que era deles que Greenth se referia, então o colar de Land era a razão pela qual era perseguida. Mas naquele momento nada era mais importante do que salvá-lo.

Greenth ofereceu-lhes um jantar recheado, a pequena mesa redonda encontrava-se coberta de deliciosas comidas, parecia dia de festa, tinha de tudo.

“Venham! Precisam de se alimentar, amanhã espera-nos uma longa jornada!”

Claire não tinha muita fome, principalmente depois do que Greenth lhe dissera. Mantiveram-se em silêncio durante o jantar. Terminada a refeição, dirigiram-se a uma pequena divisão a que Greenth os conduziu, onde encontraram umas pequenas caminhas.

“Podem dormir aqui! Tentem descansar! Boa noite!”

Aquelas camas eram mesmo pequeninas, faziam lembrar caminhas de criança. Mad Merry, dormiu durante muito tempo no chão, para ele tudo lhe parecia luxuoso, chegou-se a uma delas deitou-se e num segundo adormeceu. Claire também se deitou, mas não conseguia dormir, sentia que estava a viver um pesadelo, queria que amanhece logo para poder procurar Land. Encostou a cabeça e fechou os olhos na tentativa de descansar um pouco, mas não lhe saia da memória a imagem de Land. Por fim, também dormiu.

Enquanto Claire e Mad Merry dormiam, davam-se conta de movimentos em Nazul fora do normal. Das planícies, a chita Kara corria velozmente para encontrar Claire como lhe ordenou Liône. Mas, também os lacaios de Grima a procuravam, vindos das montanhas vulcânicas cheios de fúria.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Coração de Nazul - Cap. Cinco

Capitulo Cinco

Land continuava desmaiado. Estava a ser carregado no dorso do unicórnio, já não se encontravam na densa floresta. O belo cavalo branco e o homem que estava com ele o levaram para um vale que reluzia muita luz, tudo transmitia muita calma e serenidade. À medida que iam passando muitos eram os homens e mulheres que vinham ver, seres muito diferentes, calmos, serenos, radiando imensa luz, de beleza incomparável. Seguiam em direcção a um enorme palacete de tons dourados e de prata. Guardas que se encontravam à porta vieram ao seu auxílio para transportar Land para dentro e colocaram-no numa cama toda coberta de seda branca. Deitarem Land confortavelmente na cama e saíram do quarto ficando apenas o homem que o trouxera. Passado algum tempo surgia uma bela mulher de aspecto sereno, os seus cabelos dourados como o sol ondulavam até à cintura, a sua pele branca e os olhos que pareciam safiras olhavam para Land.

“É mesmo ele?” – perguntou a bela mulher.

“Sim! É ele! Mas está muito fraco, precisamos de recuperar o seu colar o mais depressa possível! Consegues descobrir onde ele está?”

A bela mulher aproximou-se calmamente de Land e colocou a sua mão no peito dele. Por uns momentos fechou os olhos e foi capaz de rever Land a dar o seu colar a Claire, como um acto de amor. Abriu os olhos e olhou o homem que ali se mantinha à espera que esta lhe dissesse o que tinha visto.

“Ele deu-o a uma mulher, a quem entregou também o seu coração!”

“Uma mulher? Temos de a encontrar! Ela corre perigo! E temos de devolver o colar a Land, antes que seja tarde de mais!”

A mulher de repente ficou imóvel e estranha, sentiu alguma coisa.

“O que se passa? O que vês?”

“Sinto movimento nas águas do rio!”

Claire relutante por deixar os seus pais sós a mercê daquelas horrendas criaturas, fizera o que seu pai lhe pedira fugira em direcção ao rio. Entrara na densa floresta pelo trilho que ela e Land tantas vezes passaram. Não podia voltar a trás, tinha prometido a seu pai. Corria o mais depressa que conseguia, estava a ser seguida por aquelas criaturas, não podia deixar que a apanhassem. À medida que se aproximam dela os seus rugidos se tornavam cada vez mais altos, ela corria ainda mais rápido. Chegou por fim até ao rio, mas hesitou, ficou parada a olhar, foi então que algo inesperado aconteceu, foi agarrada por Mad Merry que a puxou para o centro do rio.

“Mad…Merry? Que fazes aqui?”

“O rio, não podemos perder tempo, é a única solução! Temos de lhe pedir protecção!”

“Protecção? A quem?”

Mesmo antes de terminar de falar Claire apercebeu-se de estranhos movimentos na água.

“A Ela! A Senhora do rio!”

Emergiu à frente deles a figura esbelta de uma bela mulher, toda ela formada pela água do rio. Claire ficou sem palavras, não conseguia acreditar no que os seus olhos viam.

“Estão a violar as leis de Nazul, terão de pagar com a própria vida! As leis são claras não é permitida a passagem a ninguém!”

Mad Merry ajoelhou-se frente aquela figura: “Senhora perdoa-nos, mas precisamos da tua protecção! Por favor concede-nos a honra do teu véu de água e protege-nos dos nossos inimigos!”

Claire tremia perante aquela imagem, mas tinha de atravessar. Assim ganhou coragem e enfrentou-a.

“Deixa-me passar! Trago algo comigo que devo devolver a quem pertence de direito!” – mostrou-lhe o colar – “Por favor, tenho de encontrar Land!”

Desta forma conseguiu a atenção da Senhora do rio que olhou bem no fundo dos olhos azuis de Claire.

“Vão!”

Os rugidos ensurdecedores chamaram a atenção da Senhora do rio. Voltou-se em direcção daquelas estranhas criaturas. Claire e Mad Merry apressaram-se a sair dali chegando até à outra margem. Viram a Senhora do rio a impedir a passagem das bestas que foram levadas pela água e aquela imagem da mulher desapareceu, devolvendo a calma do rio. Perante aquela imagem que via agora, Claire respirava de alívio, mas não por muito tempo. Mad Merry que se encontrava bem ao seu lado fê-la voltar a realidade.

“Vamos, não podemos ficar aqui! Eles vão voltar, o rio não os matou!”

“Como assim?” – perguntou Claire assustada.

“O rio não pode matar algo que já não tem vida! Vamos, temos de encontrar Land!”

Mad Merry que sempre lhe parecera louco, naquele momento parecia o mais lúcido de todos. Claire nunca imaginou que por detrás daquele aspecto louco e medroso se escondesse um homem capaz de enfrentar os seus maiores medos. Por mais estranho que lhe parecesse a simples presença de Mad Merry a fazia sentir-se mais calma.

Ambos ficaram por alguns momentos parados a contemplar as enormes árvores da Floresta que tinham de passar para conseguir chegar até ao seu destino. Por fim entraram na Floresta que todos temiam. Ficaram deslumbrados com a beleza do lugar, Claire andava em círculos contemplando a luz daquele lugar, tudo era tão calmo e sereno, os pássaros cantavam fazendo esquecer todo o terror por que passou.

“Este lugar é tão belo! Não parece ser assim tão perigoso!” – exclamou Claire.

“Por vezes os perigos escondem-se nas coisas mais belas da natureza!” – Mad Merry chamava atenção de Claire.

Entretanto Land continuava num sono profundo. Ao seu lado continuavam aquelas duas criaturas belas. Todo aquele silêncio foi interrompido pelo som de passos que se aproximavam deles. Eram os passos de um animal, era Liône o leão, que ouvira os rumores de Land ter voltado.

“É mesmo ele?” – perguntou o leão que se aproximava da cama de Land para o poder ver melhor.

“Sim meu caro Liône! É ele! Mas está muito fraco! Entregou o seu colar a uma mortal e agora temos de recuperá-lo o mais depressa possível!”

“Que esperas então? Vamos até aos humanos procurar por essa mortal!”

A mulher que permanecia em silêncio concentrada em sua visão os interrompeu: “ Não é preciso ir até à aldeia dos humanos! Na minha visão vi-a! Atravessou o rio e já se encontra em Nazul procurando por Land!”

“Tens a certeza de que é ela?”

“Trazia o colar de Land ao peito e pediu-me que a deixa-se passar porque queria encontra-lo para lhe devolver algo que era seu!” – respondeu a mulher e olhando profundamente para ambos acrescentou: “Outro vem com ela que pedia protecção! Ambos fugiam das criaturas de Grima!”

Ambos ficaram claramente assustados e surpreendidos com o que ela lhes confessava. Grima conseguiu enganar a guardiã do rio e fazer passar criaturas que ao seu serviço certamente procuravam por Land e o seu colar.

“Temos de encontrar essa rapariga antes de Grima, ela corre imenso perigo!”

Liône deu um passo em frente e voluntariou-se para preparar uma equipa de vários animais de modo a encontra-la: “Vou falar com todos os animais deste reino, procuraremos por toda a Nazul! Iremos encontrá-la!”

“Obrigado Liône!”

O grande Leão saiu do palacete em direcção aos vastos vales de Nazul. Chegado a uma enorme planície verde fez soar bem alto o seu rosnar como chamamento para todos os animais comparecerem à sua presença. Não precisou de esperar muito tempo para obter uma resposta, ao longe via-se chegar vários animais, dos céus as aves, da terra felinos e várias outras espécies. Todos se aproximaram para ouvir o que Liône tinha para lhes dizer.

“Meus irmãos de Nazul! Land voltou!” – ao prenunciar estas palavras levantou-se um enorme alvoroço e para se fazer ouvir elevou a sua voz – “Calem-se!” – todos prestavam atenção – “É verdade, Land voltou, mas está muito fraco e precisa da nossa ajuda! Para ajudá-lo temos de encontrar uma humana que já se encontra em Nazul!”

“Humana? Uma humana em Nazul? Não estão os humanos proibidos de entrar aqui?” – interrompeu-o um dos animais ali presentes.

“Sim! Os humanos não são bem vindos aqui, mas precisamos encontrar esta porque ela carrega nas mãos a vida de Land!”

O silêncio instalou-se, Liône observava-os atentamente. Depois de alguns minutos dirigiu-se a todos com a voz forte.

“Vão! Encontrem e tragam-na até mim, o mais rápido que conseguirem!”

Todos, sem excepções, obedeceram e começaram a dispersar. Mas, antes de todos seguirem, Liône chama a chita Kara até ele: “Kara! Corre o mais rápido que conseguires e sê o primeiro a encontrá-la!”

“Assim o farei!” – respondeu-lhe a chita e saiu logo a correr.