(continuação)
- Alex? Alex? Acorda! Já chegamos – disse. A sua voz era suave, doce e, parecia tão distante.
Os meus olhos insistiam em permanecer fechados. O som da sua voz parecia de uma fada, daquelas que aparecem em sonhos, que por momentos acreditei que estava realmente a sonhar; até que o toque suave e quente da sua mão tocou na minha pele fazendo-me estremecer e voltar ao mundo real. Lentamente consegui abrir os olhos, a claridade esmorecida deixava prever que já seria tarde; uma cor alaranjada a fugir para um vermelho vivo pintava o céu – o pôr-do-sol.
Mas…
Não sei quanto tempo fiquei a dormir! A viagem deveria ter demorado três dias pelo menos, terei dormido três dias seguidos? Como poderíamos já ter chegado? Será que Sarah decidiu testar a potência toda do carro e carregar com o pé no fundo? Nunca foi muito de correr!
- Chegamos? Chegamos onde? – Murmurei.
O meu corpo parecia não querer obedecer, ainda estava mole – certamente pelo exagero do sono. Esforcei-me para me sentar direito e olhei em volta com os olhos bem abertos para ter a certeza que não estava a sonhar – visto que a minha mente começava a adquirir o hábito de me pregar partidas. O carro estava parado frente a uma casa branca com um belo relvado verde em toda a volta e flores. A casa não era muito grande, dividida em dois andares.
- Então? Vais ficar no carro? – Interpelou-me já do lado de fora do carro. – Bem-vindo a casa – e acrescentou com a voz a radiar o seu entusiasmo abrindo os braços num abraço imaginário que abrangia toda a casa.
Respirei fundo – nem sei bem porquê.
Abri a porta do carro e saí lentamente ainda zonzo tendo de me apoiar pesadamente na porta. Semicerrei os olhos, ainda confuso.
- Ultrapassas-te o limite de velocidade? – Perguntei incrédulo.
- Eu? – Sobressaltou-se. – Porque dizes isso? Sabes bem que não gosto de correrias…
- Então, o que aconteceu para chegarmos tão rápido? – Involuntariamente bocejei.
Sarah sorriu perante a minha falta de controlo.
- Se calhar devias perguntar a esse bocejo.
- O que queres dizer? – Olhei-a confuso. – Quanto tempo é que eu fiquei a dormir?
- Digamos que passei uma viagem completamente aborrecida porque não tinha com quem falar - Sarah falava muito depressa atropelando as palavras enquanto se dirigia até a mala do carro -, dormiste a viagem inteira. Não consigo perceber como conseguiste, três dias seguidos, Alex! Até pensei em levar-te ao hospital, depois daquele mal-estar todo; fiquei realmente assustada, ficaste imóvel, nem um músculo se mexia, só conseguia sentir a tua respiração tranquila.
Imóvel? Três dias seguidos?
Franzi o sobrolho enquanto a ouvia.
- Eu ainda parei de vez em quando, para comer, beber… Enfim, cumpri as minhas necessidades de ser humano – semicerrou os olhos na minha direcção. - Olha, eu tentei acordar-te, mas nada! Parecia que tinhas deixado de ser humano sem quaisquer necessidades para cumprir…foi… impressionante!
Sim! Impressionante!
Impressionante não era propriamente a palavra que Sarah tinha em mente. A linha franzida na testa revelava que preocupante seria a palavra mais apropriada para descrever o meu comportamento.
- Então? Vais ficar aí a olhar para mim ou vais ajudar-me com isto? – Sarah apontou para três grandes sacos de viagem que trazia na mala do carro.
- Digamos que a primeira hipótese é a mais tentadora, mas vou optar pela segunda - gracejei.
Sarah sorriu e bateu-me de leve no ombro.
- Muito engraçadinho!
- Esforço-me!
Rimos em simultâneo!
(continua...)
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